jornal Valor Econômico 25/11/2009 - Murillo Camarotto
Se as pesquisas apontam o Nordeste como o paraíso do consumo emergente no país, a realidade mostra que a região tem tudo para se transformar, também, no éden das bandeiras de cartão de crédito locais. Com crescimento de dois dígitos no faturamento e na emissão de cartões, 2009 promete ser um ano de ouro para o setor.
A estratégia comum às empresas do setor é aproveitar o fim da crise e crescer para todos os lados, mas sem abandonar o caráter regional do negócio. O alvo continua a ser as classes C, D e E. Negligenciada pelo sistema financeiro, essa fatia da população tem conseguido galgar degraus do consumo graças, em grande medida, a programas sociais do governo.
"No Nordeste, principalmente em razão dos programas sociais, nossa clientela passou a usar o supermercado e não mais a bodega", conta José Alberto Maynard, presidente da Oboé Card, bandeira do grupo financeiro cearense Oboé. "Atuamos em zonas pouco bancarizadas, onde temos uma presença muito marcante. Essas zonas só agora começam a ter a simpatia dos grandes bancos."
Lançado em 2004, o Oboé Card tem 80 mil unidades emitidas e é aceito em 2,7 mil estabelecimentos da Grande Fortaleza. Os mais usados são cartões "private label", que estampam a bandeira e a logomarca das redes locais de varejo.
A Oboé oferece cartões de crédito com limite em torno de R$ 150. O valor é quase todo utilizado: as faturas são em média de R$ 125. O baixo valor tem permitido à empresa concorrer com os carnês, modalidade de crédito mais empregada na região. "A simples migração para o cartão, que é a tendência, já resulta em um crescimento expressivo", avalia João Gualberto Moreira, diretor de negócios da Oboé. O executivo estima um aumento de 50% na base de cartões da empresa em 2010.
Hoje restrita ao Ceará - e com uma discreta participação no setor de cartão salário em Natal -, a empresa planeja se expandir para os mercados de Salvador e São Luís. Ao mesmo tempo, vai enfrentar concorrência dentro de casa, com a chegada da Credi-Shop, de Teresina, à capital cearense.
No mercado há dez anos, a Credi-Shop é uma das bandeiras regionais mais antigas e já emitiu 525 mil cartões private label, aceitos em 12,3 mil estabelecimentos de Piauí, Maranhão e Pará. Seus cartões têm limite de crédito médio de R$ 500 e fatura em torno de R$ 175. "Em 2010 o foco será no crescimento em outras praças, como Fortaleza, e sempre na baixa renda", revela Aécio Magalhães, diretor-geral da Credi-Shop. Ele projeta crescimento de 30% no número de plásticos emitidos em 2010.
Se confirmada a previsão de faturamento de R$ 520 milhões, a Credi-Shop vai encerrar 2009 com avanço de 22% sobre o ano passado. A base de cartões crescerá menos, 10%, em virtude do freio imposto pela retração econômica. "Durante a crise, colocamos o foco na melhoria de qualidade dos nossos serviços e paralisamos a expansão, pois achávamos que seria difícil crescer", diz Magalhães. "Mesmo assim, o ano foi fantástico".
A Oboé também pisou no freio durante o primeiro semestre. "Como dependemos do crédito bancário para financiar o rotativo, e como os grandes bancos seguraram, preferimos não aumentar o número de cartões", conta o presidente da empresa.
A também cearense FortBrasil diz não ter enfrentado problemas com a crise. A empresa emprega capital próprio para financiar os clientes, sempre de baixa renda, mercado em que atua desde 2005. A fatura média é de R$ 180, e o limite, de R$ 350. Superada a etapa de aprendizado no trato com a baixa renda, a empresa vem crescendo e projeta para 2010 alta de 30% no faturamento, afirma o diretor de Operações, José Pires de Oliveira. A FortBrasil projeta receita de R$ 110 milhões em 2009.
O mesmo ritmo de crescimento é esperado para a base de cartões, hoje em 300 mil unidades aceitas em 3 mil estabelecimentos de Fortaleza e Natal. A ideia da companhia é reforçar a presença na capital do Rio Grande do Norte no ano que vem, para avançar sobre o mercado da Paraíba em 2011.
Uma das apostas da FortBrasil é a aprovação dos negócios via internet, dentro das lojas, sem a necessidade do POS, a maquininha que autoriza as compras, cujo mercado é dominado por Cielo (ex-Visanet) e RedeCard. A ideia ainda se encontra em fase de testes, mas está sendo "bem aceita", diz o diretor.
A redução dos custos da operação é o principal estímulo que a empresa pode oferecer. "Nossa maior dificuldade é convencer o lojista, especialmente o pequeno, a aceitar o custo do POS, que, no nosso caso, é de R$ 50 por mês", revela o executivo.
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