É uma pessoa extremamente simpática e querida por todos. Pede aos motoristas para esperar quando um passageiro está chegando, brinca com os motoristas sobre futebol, avisa às pessoas quando os veículos de passageiros estão despontando na avenida, entre outras informações relevantes para seu público.
"Olha o Grande Circular I chegando. Atenção, vem chegando o Grande Circular - Barra, Pituba, Iguatemi e Rodoviária..."
Também coloca músicas nos alto-falantes, "Djavan, Milton Nascimento, só musica brasileira de boa qualidade. Pagode não boto porque o pessoal da faculdade não gosta", explica
Robertinho Baleiro viveu dez anos na rua. Quase não tem parentes. Com sua ingenuidade genial, ele transformou-se numa figura indissociável da UFBa, mais especificamente o Campus do Canela, que é cortado ao meio por uma movimentada avenida. Da venda de balas, ele expandiu o negócio para os salgados e agora dá informações sobre o horário dos ônibus e alerta para a criminalidade, usando um sistema de alto-falantes que os estudantes das faculdades de Educação e Administração já se acostumaram a ouvir e até a homenagear. Hoje em dia, o vendedor de lanches tornou-se um requisitado palestrante em empresas locais.
Ele já deu nove palestras em diversas empresas como Odebrecht, ou instituições como a Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Já palestrou até ao lado do prefeito João Henrique (PDT), em um luxoso hotel do Corredor da Vitória.
É figura notória e aparece nas foros de muitas formaturas na UFBa. Certa vez a prefeitura de Salvador tentou retirá-lo de lá e houve uma manifestação pública gigante na frente de universidade. Alunos e professores protestaram por sua permanência no local. O resultado foi a UFBa ceder a guarita que fica na entrada do campus para que ele se estabelecesse e onde permanece até hoje. Robertinho fala de tudo isso com muito orgulho e até dá emprego a outra pessoa.
O caso do Robertinho Baleiro me faz pensar sobre quão surpreendente é o ser humano. Muitos de nós estudamos por anos a fio para gerenciar negócios em um mercado altamente competitivo e ávido por talentos. Robertinho é um desses talentos, só que com pouquíssimos anos dentro de uma sala de aula. Toda sua eficiência empreendedora é empírica. Uma capacidade que lhe é inata para sobreviver e progredir dentro de um caótico funil social onde teoricamente seria devorado.
Um bom empreendedor combina senso de oportunidade, visão inovadora e uma dose de atração pelo risco. Além de ser um empreendedor nato, Robertinho transita muito bem pelo mix de marketing e usa o marketing de guerrilha como um profissional tarimbado. Uma de suas investidas virais foi a de presentear todas as mulheres que estivessem passando pelo seu "PDV" usando calcinha preta. Foi hilário e muita mulher aderiu. Segundo ele, foram distribuídos mais de 120 lanches para aquelas que mostraram uma pontinha da peça íntima. Foi taxativo na resposta ao repórter de televisão:
"Quando dei estes 120 lanches na minha promoção estava fazendo com que o cliente conhecesse meu lanche e meu atendimento para depois voltar e virar freguês".
O que deve ser considerado como inovação?Ao contrário do que muitos pensam, inovação não é uma invenção nem é necessariamente criar novas tecnologias. Inovação pode ser definido como um modo aberto de pensar, capaz de criar valor. Isso pode resultar no advento de novos produtos. Mas, cada vez mais, significa criar novos modelos de negócios ou pegar tecnologias que já existem em um mercado e encontrar meios de torná-las relevantes em outros. - Do indiano Vijay Vaitheeswaran lançou, no início deste ano, o livro Zoom -- The Global Race to Fuel the Car of the Future ("Zoom -- A corrida global para abastecer o carro do futuro"
Plano de Marketing, Marketing Viral, Planejamento Estratégico... São expressões que Robertinho certamente nunca ouviu falar, mas que na prática são aplicadas.
Acredito que certas pessoas são dotadas de capacidades sem necessidade de conhecimento acadêmico. Será que se Robertinho fosse capacitado numa formação clássica em administração e marketing teria a mesma agressividade empreendedora ou seria...digamos, técnico demais?
Paulo Rubini - Consultor de Marketing
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