Paulo Rubini
Ai, se eu te pego, Luíza...
06/02/2012
Desde que a propaganda começou a ficar mais “esperta” e assumiu um papel mais dinâmico e abrangente do que a primordial função de oferecer produtos, ela se desdobra como espelho do que as sociedades manifestam como comportamento, cultura, o arts & krafts e o zeitgeist (com o perdão dos estrangeirismos, mas ilustra bem e que fica chique, fica...).
Tão interessante quanto, é quando a propaganda traz a vanguarda à luz do senso comum. É nas ocasiões (raras), quando ela consegue aliar a ação de lançadora de tendências com a tarefa fundamental de vender com competência, é que nossa querida profissão, em minha opinião, alcança sua maior relevância como atividade econômica e social.
Mas aí veio a internet e bagunçou tudo.
Qualquer zé mané lá do Chumbuquistão grava um vídeo bizarro/estranho/engraçado/ violento/gracinha, posta na rede e por obra do sei-lá-o-que, vira um meme mundial. Até aí, tudo bem. Afinal, todos nós, lá no fundo (ou nem tão no fundo assim), temos um lado que curte coisas bizarras/estranhas/engraçadas/ violentas/gracinhas.
É o que acontece hoje com o fenômeno Luíza, que imagino, todo mundo já ouviu falar. Apenas para resumir e relembrar, um colunista social de uma capital brasileira participa de um lançamento imobiliário de alto padrão, onde ressalta a virtude do apartamento, símbolo daquilo de mais requintado do que poderia usufruir o society local. Para marcar seu orgulho, reuniu a família, com exceção da filha Luíza, que “está no Canadá”. Não deixam de ser comoventes os símbolos de ascensão social dessa galera (o tempora, o mores, etc...), mas como propaganda, é ruim. Tão ruim que é ótima e por isso virou hit na web.
O que não dá para perdoar é a carona preguiçosa, que muitas marcas importantes têm pegado neste e outros exemplos, do tipo...” Todo mundo está comprando na Loja do Zezinho, menos a Luísa, que está no Canadá”...
Tudo ao som do onipresente “Ai se eu te pego, ai, ai, se eu te pego”...
É legal procurar sempre se colocar empaticamente no lugar das marcas que a gente cuida, se perguntando se cada ação vai construir, vai consolidar, vai inovar.
Tenho sérias dúvidas se, colar no galeguinho de Medianeira e seu improvável (mas incontestável) sucesso mundial, ou outro que inevitavelmente o sucederá, na Luíza da vez ou na nova über perua (hellooou!!...), por pura preguiça de planejar o caminho, suar o cérebro para criar o novo, bebendo nas influências do espírito do tempo ou na ousadia da vanguarda, são táticas inteligentes.
Pode parecer dar certo por algum tempo, o Michel e a Luíza vão ganhar uma boa grana e desfrutar doswharolianos 15 minutos a que todos têm direito.
Mas é injusto fazer a marca pular de galho em galho, para poder aproveitar o que outra pessoa inventou lá no Chumbuquistão e que vai fazer um sucesso apenas momentâneo.
A marca fica perdida, pois a mensagem que ela transporta pode ser até ser bizarra, estranha, engraçada, violenta ou gracinha.
Mas é má propaganda.
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