MARCAS CONGELADAS | |
Isto É | 2202/2008 |
REF: Branding - Estratégia de Marketing |
Há grifes consagradas do passado fora do mercado. vale a pena trazê-las de volta?
R$ 40 mil é a receita da Pakalolo, que voltou ao mercado após anos de hibernação |
Quem anda pelo centro da cidade de São Paulo e tem mais de 30 anos deve lembrar-se da loja do Mappin, próxima do Teatro Municipal, um dos cartões-postais da capital paulista. A marca, uma referência do varejo, acabou no ostracismo, como tantas outras que hoje habitam apenas o imaginário coletivo. Afinal, onde estão nomes como o do jeans US Top, os calçados 752 da Vulcabrás e o elefantinho da Cica, antes consagrados e atualmente fora do mercado? Nem todas as marcas tiveram um fim fatídico como o Mappin, envolvido em processos judiciais até hoje. Algumas simplesmente foram recolhidas em função da estratégia da própria empresa, a exemplo da Kolynos, ou da necessidade de enxugar seu portfólio – como a Cica, que preserva seu elefante na marca Knorr. Outras foram para o freezer devido a uma decisão internacional – é o caso do Bamerindus, incorporado pelo HSBC.
De acordo com a lei brasileira, uma marca pertence à empresa que a criou durante dez anos. Esse prazo pode ser prorrogado por períodos iguais e sucessivos. Mas o domínio da marca pode caducar quando seu uso é interrompido por cinco anos consecutivos. Por isso, algumas empresas lançam esporadicamente a marca no mercado e, a seguir, a retiram novamente. Assim não perdem o direito ao uso. É o que faz a Colgate com o nome Kolynos. De tempos em tempos, o creme dental Sorriso, também pertencente à Colgate, ostenta em sua embalagem uma espécie de assinatura em letras pequenas: Kolynos. Quando a Colgate comprou a Kolynos, o Cade determinou que a marca adquirida deveria ser abandonada por quatro anos, devido à excessiva concentração de mercado nas mãos de apenas uma empresa. A Colgate então lançou a Sorriso. “Ao se esgotar esse período, a empresa decidiu manter a Sorriso e não relançou a Kolynos”, afirma Eduardo Tomiya, da BrandAnalytics e especialista em gestão de marcas.
Mas o relançamento dessas marcas congeladas é um bom negócio? Tudo depende da imagem dela e da necessidade de quem pretende usá-la. “Com o passar do tempo, as marcas vão perdendo sua relevância e o que foi garantia no passado necessariamente não é mais hoje”, afirma José Roberto Martins, da Global Brands. Principalmente se o nome está vinculado a uma situação negativa, como a construtora Encol, que lesou milhares de consumidores na época da sua falência, um dos grandes escândalos da história do capitalismo brasileiro. “Uma marca exposta a situações como essa perde seu valor mesmo antes de ser retirada do mercado”, completa Hélio de Carvalho, da FutureBrand. Isso explica por que a marca Mappin não encontrou compradores quando foi a leilão há cerca de dois meses, por um valor mínimo de R$ 8,5 milhões. Cerca de 700 interessados visitaram o site, mas não houve nenhum comprador. Por outro lado, há casos em que o sucesso de outrora é resgatado, como o da grife de roupas Pakalolo, adquirida em 2005 pelo grupo catarinense Marisol. Seu faturamento na ocasião era inexpressivo. Mas, no ano passado, já bateu na casa de R$ 40 milhões, com perspectiva de crescimento de 20% neste ano.
Relembre a seguir algumas assinaturas, que se tornaram ícones em sua época
FRIGIDAIRE No Brasil, o nome pertence à Electrolux. Nos EUA, continua ativa. Por aqui poderia servir para uma linha com apelo vintage, pois sua presença remonta aos primórdios da refrigeração no País |
FNM As iniciais da Fábrica Nacional de Motores eram sinônimo de caminhão nos anos 50 e 60. Hoje dificilmente um pesado com essa sigla conquistaria a confiança de motoristas e fretistas |
TELEFUNKEN
A Gradiente chegou a relançá-la por aqui, após o sucesso nos anos 60 e 70. A iniciativa não prosperou e o domínio voltou ao grupo alemão EHG Elektroholding, que a mantém em 115 países
BAMERINDUS
O HSBC é dono da marca e a retirou do mercado quando comprou o banco. Ainda é vista com simpatia, sobretudo no meio rural, onde tinha forte presença devido ao crédito agrícola
US TOP
“Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada” dizia o famoso jingle da marca. Com a onda revival dos anos 70 na moda brasileira, a Alpargatas poderia utilizá-la ou licenciá-la para uma confecção
752
O calçado era resistente, durável e pobre no design. A Vulcabrás é dona da marca, que parece padecer de envelhecimento. Você imagina um garotão indo para a balada com um 752?
MAPPIN
Pertence à massa falida da Casa Anglo- Brasileira (leia-se Ricardo Mansur). Seu prestígio era grande, mas identificado com um modelo de negócios que hoje parece ultrapassado
CICA
O slogan “Bons produtos indica” ainda provoca eco na mente das donas-de-casa. Mas a Unilever, num processo de enxugamento de portfólio, só usou o famoso Elefante do extrato de tomates
KOLYNOS
Está viva na memória dos consumidores – muitos acham que ela ainda existe. A Colgate não a usa por motivos estratégicos, mas não a venderá, pois seria um concorrente ameaçador
TRANSBRASIL
A empresa está parada desde 2001. De tempos em tempos, ameaça voltar aos céus. A marca teria de resgatar a credibilidade, pois sua lenta agonia deixou mais de 100 mil passageiros no chão
Fonte: Mercado Competitivo
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