Presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Arthur Badin pretende iniciar, ainda em março, uma maratona no Senado Federal em defesa do Projeto de Lei nº 3.937/04, que cria o novo Cade.
O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados em dezembro de 2008, pouco mais de um mês após a posse de Badin. “A crise mundial nos coloca de novo frente a uma antiga verdade: crises são oportunidades. E, de acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o país que tem o maior potencial de crescimento do mundo no contexto desta crise”, disse Badin. Ele acredita que é preciso estar preparado para aproveitar a oportunidade de mudar a inserção da Nação no mundo, aumentando a proporção de market share dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Para isso, ressalva, serão necessárias mudanças institucionais, criar novos marcos regulatórios, realizar os ajustes necessários para destravar o custo Brasil. “A reestruturação do Cade e a simplificação do julgamento de fusões no País têm tudo a ver com isso”, enfatiza. O presidente do Cade também alerta que a janela de oportunidade para melhorar o ambiente de negócios estará aberta em 2009, já que 2010 será marcado pelo período eleitoral, que sempre torna mais difícil a tramitação de projetos no Congresso.
Fim do triplo guichê – Um dos objetivos do projeto é unificar a estrutura de defesa da concorrência no Brasil, hoje, dividida em três guichês: Cade e Secretaria de Direito Econômico (SDE) – ambos vinculados ao Ministério da Justiça – e a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda. Badin acredita que é hora de enfrentar o chamado Custo Brasil: a burocracia cartorial que faz, por exemplo, com que o prazo para abrir uma empresa no País demore até seis meses, contra apenas 24 horas em alguns países, como a Coréia do Sul. Essa lentidão gera um custo que é pago pelas empresas. “O problema do País não é legislativo, não há falta de leis. O problema é jurídico, de execução das leis, associado à burocracia do Estado”.
Análise prévia – A segunda finalidade é instituir a análise prévia de atos de concentração (fusões e aquisições), hoje feita posteriormente ao fechamento dos negócios. Os casos mais simples, ou 93% das fusões, serão julgados em até 20 dias. Os casos complexos terão até 180 dias para serem analisados – são os que envolvem empresas com faturamento igual ou maior que R$ 400 milhões/ano ou que gerem impacto igual ou maior que 20% do mercado. Atualmente, a análise de todas as fusões é feita sempre depois que as empresas já realizaram a transação.
Reestruturação – O terceiro objetivo trata de reforçar o sistema de defesa da concorrência. Hoje o Brasil é o que tem o sistema anti-truste mais desenvolvido entre os emergentes, que incluem China e Índia. “Mas, apesar deste avanço, o País tem um Cade com uma estrutura quase indigente”, avalia Badin.
A SDE tem 20 técnicos para realizar investigações no Brasil inteiro. “Todos estes técnicos estão situados em Brasília. Eles fazem operação de busca e apreensão com apoio da Polícia Federal em caso de comprovação de cartel, que é a pior das condutas anti-competitivas. Seriam necessários pelo menos mais 12 técnicos para que o órgão pudesse atuar como deve”. E o Cade dispõe de 18 técnicos, que servem o gabinete de sete conselheiros. A média é de dois por gabinete.
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