quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sustentabilidade para as grandes redes de supermercados no Brasil,

jornal Valor Econômico 11/08/2010 - Vanessa Dezem
 
O termo sustentabilidade, para as grandes redes de supermercados no Brasil, não mais se restringe à tentativa de convencer o consumidor a não usar a sacola plástica para embalar suas compras, um hábito difícil de abandonar. Os três maiores grupos do setor - Pão de AçúcarCarrefour e Walmart - estão treinando funcionários e negociando acordos com fornecedores para reduzir desperdícios, diminuir a utilização de materiais poluentes e, no final das contas, serem mais eficientes e melhorar a imagem da companhia junto à clientela.

O Instituto Akatu, uma ONG que promove o consumo consciente, já treinou nessas três redes varejistas, desde 2007 até agora, 140 mil pessoas, entre funcionários e seus familiares. Apenas no Walmart, 60 mil empregados já passaram pelo programa desenvolvido pelo Akatu.

"A concorrência aumentou e isso impulsiona as ações. Cada vez mais viramos uma commodity para o consumidor e precisamos ter diferenciais para não perdermos mercado", diz a gerente de sustentabilidade do Grupo Pão de Açúcar, Ligia Korkes. Cerca de 500 funcionários do grupo já passaram por treinamento com o Akatu.

"Uma coisa é a empresa, a partir de sua diretoria, definir planos de sustentabilidade, de cima para baixo. Outra coisa é que essa definição venha acompanhada de uma sensibilização dos funcionários, que se tornam parceiros da empresa nesse processo", diz o presidente do Akatu, Helio Mattar.

No Wal-Mart, o primeiro a fechar acordo com o Akatu, em 2007, são usados "multiplicadores" - funcionários voluntários que recebem as informações e as transmitem aos colegas. O multiplicador, primeiro, recebia explicações sobre como mudar hábitos dentro de sua própria casa. Agora, o plano, segundo a diretora de sustentabilidade do Walmart Brasil, Christianne Urioste, é trazer o funcionário para os programas da empresa. "Para que ele pratique o que aprendeu dentro da sua função".

Dentre as ações que devem ser praticadas pelos trabalhadores do Walmart está ajudar a convencer o cliente a usar menos sacolas plásticas, incentivá-lo a usar as estações de reciclagem da rede e orientá-lo em relação aos produtos sustentáveis vendidos nas lojas rede. Os funcionários são orientados também a posicionar esse tipo de produto nas gôndolas.

Os efeitos são de difícil mensuração, mas Urioste diz que, em 2009, o Walmart atingiu as metas de redução de energia e consumo de água e ganhou o reconhecimento da matriz nos Estados Unidos, por ser a filial com o maior número de funcionários (70% do total) participando do plano mundial Projeto Pessoal para Sustentabilidade (PPS), que incentiva o funcionário a adotar, no mínimo, um hábito sustentável.

O conceito do funcionário como agente promotor do consumo consciente também chegou ao Carrefour. O projeto-piloto de treinamento foi iniciado em 2009 - na matriz, o programa começou em 2006. Até o momento, segundo o Akatu, já foram treinados cerca de 1.000 pessoas ligadas à rede e neste mês de agosto, começa a ser implementado o programa para a alta gerência. Até o fim de 2012, a rede estima que já terá treinado todos os funcionários da bandeira, que somam 45 mil no Brasil.

A prática da sustentabilidade vem mudando as relações entre supermercados e indústrias. A partir deste ano, mais de 5 mil fornecedores do Carrefour terão que entregar um relatório anual e assumirão metas sobre suas práticas produtivas. Os do Pão de Açúcar serão avaliados e premiados, caso tenham bons indicadores.

O Walmart foi mais longe. Desafiou grandes fornecedores - como 3M, Cargill, Colgate, Coca-Cola, J&J, Nestlé, PepsiCo, P&G e Unilever - a tornarem mais eficiente a fabricação de seus produtos-líderes. Assim, a embalagem de PET do óleo Liza teve seu peso reduzido, o amaciante de roupas Comfort ficou mais concentrado e as fraldas Pampers foram projetadas com menor quantidade de celulose.

Segundo Mattar, é justamente esse poder que o varejista tem sobre a cadeia produtiva, que faz o sucesso dos programas de sustentabilidade. "Eles têm contato com muitos consumidores e têm um poder de compra grande na indústria, o que faz com que qualquer pedido deles tenha forte impacto nos fornecedores", diz Mattar. Calcular os efeitos desse tipo de projeto nos lucros das varejistas não é fácil. "Mas aquele que não fizer vai perder mercado, isso é certeza", diz o diretor de sustentabilidade do Carrefour, Paulo Pianez.


Em minha opinião, as iniciativas das grandes redes são louváveis; entretanto, muito da cultura deve ser mudado, como por exemplo, a dispensa do lixo doméstico por meio dos famosos sacos plásticos. Pesquisas recentes indicam que 100% das pessoas que levam sacos plásticos de supermercados para casa o fazem para posteriormente dispensarem o lixo gerado diariamente.

É puro lero-lero de eco-chato, impor o fim dos sacos plásticos nas redes varejistas. O que deve ser feito é a diminuição drástica de embalagens que se transformam em lixo doméstico. Outra fórmula que vem sendo adotada, que do meu ponto de vista é viável, é a utilização de embalagens óxi-biodegradáveis de última geração, desenvolvidas a partir de matérias primas renováveis, para servirem como sacos para lixo doméstico. Também, parcerias com recicladoras de ciclos retornáveis diretamente com as redes varejistas.  

Dia desses, ví um exemplo de sustentabilidade de dar água na boca. As destilarias escocesas de grandes marcas de Whisky reciclam os barris de madeira usados para o envelhecimento do puro malte escocês. Uma tradição de gerações que, além do reaproveitamento da madeira evitando a derrubada de milhares de árvores, aprimora a qualidade do produto exatamente pelo uso de décadas da mesma madeira.
  
Paulo Rubini

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