domingo, 17 de janeiro de 2010

Quem precisa de Líder?

Lider Jim Jones

De quando em vez aparecem termos pomposos, mais parecidos com expressões retiradas do manual da tecnomistificação do que para alguma função prática. Expressões como governança corporativa - que nada mais é do que a administração de uma empresa -, ou colaborador, termo muito usado pelos “lideres” para designar seus “seguidores”, quando na verdade colaborador é aquele que não é remunerado ou por fazer filantropia, assistência religiosa (colaborar na obra da igreja, por exemplo), ou aquele que escreve para uma redação como “freela”, recebendo pelo trabalho avulso. Ou seja, não é parte permanente do quadro de pessoal. Em sua empresa existem funcionários ou empregados do quadro permanente.
Os terceirizados ou colaboradores são aqueles que prestam serviços sem vínculo empregatício direto. Exemplo disso são os técnicos que dão manutenção ao equipamento de uma grande empresa por contrato de prestação de serviços.
Mas soa como algo religioso, uma grande obra! Meus COLABORADORES contribuem na construção deste projeto!

Você conhece alguém que diz: sou colaborador daquela empresa, no lugar de: sou empregado daquela empresa? Ou ainda, conhece alguém que diz: fulano é meu líder na empresa, no lugar de: fulano é meu gerente na empresa?
Você colabora com o dízimo? Muito bem, isso é voluntarioso e demonstração de religiosidade. Mas para colaborar com o dízimo é preciso trabalhar e auferir renda com o suor da labuta.

Mas vamos falar do LÍDER.

São centenas de definições para LÍDER, milhares de livros, palestras e artigos sobre o assunto e muitas rodas de boteco sobre lideres, liderança...
Tem o Líder educador, Líder inspirador, líder disso, daquilo... Tudo bobagem.
Jesus foi um líder, Gandhi foi um líder, Hitler foi um líder, mas poucos desses líderes foram bons gestores. Hitler não gerenciou adequadamente sua estratégia de dominação, e mesmo sendo um ícone político ideológico para seus seguidores, perdeu a guerra.
Liderar é dirigir na qualidade de líder, como um régulo, pequeno ou jovem rei; xógum, líder militar supremo, no Japão, que chegou a suplantar o poder do imperador, ou um guru, líder religioso budista ou hindu.

líder (inglês leader)
s. 2 gén.
1. Pessoa que exerce influência sobre o comportamento, pensamento ou opinião dos outros.

Repare que quando a imprensa fala do crime organizado, refere-se ao chefe do bando com líder do tráfico da favela tal, mas quando fala do comércio de drogas, fala em gerente do ponto de venda ou “boca de fumo” (não vou entrar no mérito desse tipo de comércio).
O líder é sempre um influenciador persuasivo, e a persuasão do traficante, por exemplo, é a força de uma HK dourada, a persuasão do político é a influência, do Papa é a fé cristã e assim por diante.

Decerto que pessoas como Steve Jobs (Apple), não só atrai talentos para a sua empresa como influencia pessoas de espírito criativo e inovador, são as exceções incontestáveis. Jobs nunca foi famoso por suas habilidades gerenciais, mas por seu irrefutável talento como inovador do design. Dizem que o símbolo da Apple inspira a criatividade. Já tentou fitar a maça na hora de criar? Na verdade, Apple e Jobs se fundem e quando se fala em um ou noutro, não tem como separá-los na formação do argumento. Há pouco tempo quando Jobs estava doente e se afastou dos negócios muitos se perguntaram: O que será da Apple?
Vamos deixar as exceções de lado. O que acontece é que estou cansado da repetitiva retórica sobre LIDER (trechos da literatura do tema que anda por aí):

1 - “O líder deve oferecer uma causa para o time e não apenas estabelecer metas pra serem cumpridas. “É preciso oferecer algo que transcenda o emprego deles, criar expectativas na equipe”. Ele deve dar o porquê para que os colaboradores suportem o como", explica o consultor. Dessa forma os funcionários têm algo que justifique o sacrifício deles e os mantém estimulados a produzir melhor
- Seria algo como na música Cazuza, “Ideologia, eu quero uma pra viver”?
Note que a dupla líder e colaborador são inseparáveis.
Bobagem!
O que as pessoas querem (ou buscam) é conduzir suas vidas e não serem guiadas.
Bill Gates:
“No próximo século (estamos nele), os lideres serão aqueles capazes de promover o empowerment das pessoas.” - Os caras do Google fazem isso muito bem, mas ninguém sai por ai falando que Larry Page e Sergey Brin são semi-deuses ou lideres. Eles são geniais visionários e também exímios empreendedores (agora mesmo estão querendo entrar no negócio de energia elétrica nos EUA). As pessoas que trabalham para o Google são escolhidas com lente de aumento, mas o resto da história todos já sabem.
2 -Para você ser um líder, sua principal tarefa, a partir de agora, será ouvir, observar, servir, executar e concluir. Assim, seus passos serão seguidos, sua voz será ouvida, sua energia influenciará a todos à sua volta e, naturalmente, sua liderança será conhecida e reconhecida.”.
Chega a ser até engraçado ler estas coisas. Vai dos sentidos humanos (sim, se temos ouvido e visão, temos de usá-los) ao mais básico até para o pessoal da limpeza, mas parece um mantra sagrado do livro mágico dos lideres. A bíblia tem coisa melhor:
- “Se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?” – I Corintios 14:8 > mandei bem para uma palestra?

3 - “Para ser um grande líder, você tem de estar afinado com o progresso e jamais se tornar um dinossauro ultrapassado.”
Não é sacanagem, estas coisas são faladas por ai em palestras motivacionais.

4 - “Lembre-se de que todos são importantes – Quando todas as pessoas são importantes e sabem disso, elas chegam felizes ao trabalho e ficam ansiosas por retribuir com energia, criatividade e lealdade.”
Vou provar que consigo fazer melhor citando o Jack Welch:
- “Leve um regador cheio numa das mãos e fertilizante na outra. Regue os empregados-sementes, e observe como o jardim se desenvolve. Sempre haverá ervas daninhas. Arranque-as e o jardim terminará exuberante.” Todos são importantes quando correspondem expectativas (e devem ser recompensados por isso).

5 - “Amanhece. Em um zoológico, os animais começam a acordar. Entre eles, um imenso tigre albino abre os olhos, espreguiça-se e começa a filosofar sobre liderança (...)”
“(...) o tigre, nos ensina estão as sete habilidades do treinador de animais. O que, transportando do mundo do zoológico à realidade, equivale a chamar de sete habilidades do líder:”
Assim, o tigre e seus tratadores transformam o zoológico em um lugar melhor para se trabalhar e viver e, mais que isso, fazem com que os visitantes (clientes) se sintam bem ali dentro e queiram voltar outro dia (...)” -
livro Os passos do tigre.

Bizarrices como esta que em forma de fábula traz o mesmo blá, blá, blá de sempre: Seja sempre transparente; Dê valor às opiniões alheias; Conheça as necessidades e desejos dos “colaboradores”; Aprenda a ser mais respeitado que querido...: ·.

Resumo da ópera
É muito difícil influenciar comportamento dentro das empresas nos dias atuais, principalmente as gerações dos céticos (entre 30 e 39 anos), da internet (entre 25 e 29 anos), e a dos juniores (menos de 24 anos); ou seja, influenciar pela idolatria, gerações que têm pressa em conquistar cargos e melhor remuneração. Aliás, a geração internet e os juniores são os carreiristas do século 21 – visam ascensão rápida e se dispõem a trabalhar mais para alcançar posições mais altas. Afirmam que são eles que dão o rumo para a carreira -, embora apontem atritos nas disputas e critiquem o foco em interesses individuais quando percebem isso no chefe. A força motriz dos mais jovens é de fato a conquista de cargos e não necessariamente de resultados. Nesse item, os céticos deixam claro que querem, além de nova posição, reconhecimento financeiro. Acha que eles têm tempo para seguir o “líder”? Conhece a brincadeira de criança: “Tudo Que Seu Mestre Mandar?”.
Gerenciar empresas é a arte de administrar recursos financeiros e humanos de maneira ótima dentro dos objetivos planejados para o negócio.
Jack Welch conhecia pelo nome cerca de 1500 funcionários do grupo GE e eliminou a figura do chefe. Segundo Welch, para ter sucesso você deve derrubar as barreiras internas. Quanto menos fronteiras internas, maior a eficiência da empresa. Note que a dica de Welch - com a autoridade do eleito executivo do século – fala de eficiência empresarial e não de oba, oba sobre como ser um “líder sem fronteiras”.
Uma pesquisa da Stanton Chase International/Grupo Foco, de 2008, realizada nos países latino-americanos, concluiu que pelo menos 46% de todos os profissionais entrevistados, das diversas gerações e países, reclamaram de já terem tido chefes difíceis. Segundo a mesma pesquisa, para tornar-se um gestor eficiente e não um tirano é necessário as seguintes características:
- Nunca transmitir desprezo ou humilhar os subordinados;
- Sempre dar feedback;
- Jamais ser ditatorial;
- Preocupar-se com a comunicação;
- Demonstrar satisfação com o trabalho dos subordinados;
- Saber delegar tarefas;
- Preocupar-se com a carreira de sua equipe;
- Reconhecer o mérito de idéias e inovações de outros;
- Ser gentil;
- Elogiar sempre que necessário;
- Não ser manipulador;
- Sempre explicar com franqueza as razões da demissão
.

Parece coisa de manual do líder. Mas não é. É apenas o mínimo que um profissional que exerce atividade de LIDERANÇA deve possuir na bagagem.

liderança s. f.
Comando, direção, hegemonia...

Muita gente fala sobre liderança como sendo o resultado da atividade de um líder (que é liderar). Liderança não tem nenhuma relação com Líder. Liderança neste caso tem a ver com o ato de dirigir ou comandar, a atribuição do dirigente.
Na carreira profissional não devemos ter um líder para seguir, mas dirigentes com visão de gestão humanizada, preparados na administração de suas atividades dentro de empresas que buscam destaque em seus segmentos de forma profissional, ética e sustentável (ou deveriam). Essas empresas devem ter valores e sua cultura muito bem disseminada entre seus funcionários, de todos os níveis.
“Desastres mandam avisos. O desafio é conseguir lê-los.”José Galló (Lojas Renner).

Um bom executivo, além de determinado, consegue antever ameaças e dar respostas a elas. E nisso podemos englobar todos os aspectos corporativos, não tendo nenhuma relação com a tal mítica do líder.

Se você é candidato a executivo, saiba que não existe substituto para o conhecimento apurado. Conheça a si mesmo, conheça seu negócio, conheça quem trabalha para você.

Dicas de gerenciamento:

“Use a ferramenta apropriada para o serviço. Deixe que a ferramenta faça o serviço. Cuide de suas ferramentas.” – Stanley E. West.
“Cerque-se das melhores pessoas que puder, delegue autoridade e não interfira.” – Ronald Reagan.
“O importante não é o quanto você paga para alguém, mas quanto essa pessoa lhe custa.” – Will Rogers
“A competição entre os indivíduos joga uns contra os outros e prejudica o moral, mas a competição entre as organizações eleva o moral e estimula a criatividade.” – George Washington Allston
“Cerque-se de céticos, não de ingênuos que dizem o que você deseja ouvir. Exija também que seus empregados de confiança lhe contem a verdade, obrigando-o a recuar sempre que o virem cometer um erro de avaliação.” – David F. D’Alessandro
Pra finalizar, transcrevo algumas lições de Magim Rodrigues Junior, ex-presidente da Lacta, da Brahma e da AMBEV, que deixou o mundo corporativo para se dedicar à pecuária, seu maior sonho:

- Simplicidade operacional, corte de custos e bonificação. É a cartilha da AMBEV;
- Prefira empresas mais ágeis, com menos níveis hierárquicos e adeptas de soluções simples. Mas isso não é fórmula pronta para o sucesso.
- Uma grande empresa e uma padaria são iguais. Dependem de um sujeito competente que controle o caixa, observe a entrada e a saída de mercadorias e cuide para que seus custos sejam cada vez menores, de modo que as margens aumentem mês a mês. O que importa é o resultado, não o estilo de gestão.
- Dinheiro é a única maneira eficaz de motivação. E só se consegue um bom resultado com pessoas motivadas.
- Uma companhia pode ter executivos mais velhos. Mas deve mesclar essa experiência com a juventude.
Sei que este texto pode parecer arrogante ou gerar polêmica, mas modismos dessa natureza só servem para vender livros e palestras, criando um monte de alienados em busca da medalha de líder. Gostaria de saber a opinião de vocês sobre o assunto.
Paulo Rubini - Consultor de Empresas @mkt360graus

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