Desde muito cedo pratico artes marciais, passando pelo Judô, Karatê e hoje no Aikidô. Fui longe em todas as modalidades, mas nunca consegui a honraria maior em nenhuma delas: a faixa preta. Foram diversas as razões para não ter atingido o ápice que inicia a fase “Dan”: busca por novidades, falta de tempo para a prática, falta de foco...
Filosofando (texto: Fernando Malheiros Filho)...
As artes marciais surgiram - especialmente aquelas conhecidamente influenciadas pelo zen -, não para estimular a matança, mas -para "humanizar" o atavismo da violência, após séculos de guerras ininterruptas no solo nipônico, através da disciplina e fundamentalmente do autoconhecimento (a primeira conduz ao segundo), este a mais velha e ainda distante aspiração da humanidade.
Lutar, nesse contexto, adquire uma função nobre, francamente educativa, em que cada praticante, pela repetição exaustiva dos movimentos, em sua química interior, produz uma amálgama única, um "insight", o satori, encontrando a chave do mistério, que permite a abertura dos magníficos portais que guardam o conhecimento que somente a intuição pode alcançar.
O caminho, no entanto, como tudo que é produto da humanidade, não é tranqüilo, posto que repleto de armadilhas, freqüentemente intransponíveis, como a jactância do forte, que não consegue ver a fraqueza por detrás de sua fortaleza, e perde-se em um átimo, ignorando a própria degenerescência, onde somente a sabedoria sobrevive.
A arte da guerra, portanto, é o principal instrumento de que dispomos para evitá-la, e não só as guerras externas, cruentas e sanguinárias, mas também os renhidos embates internos, guerras metafóricas, mas não menos dolorosas.
Trilhar verdadeiramente o caminho (Do) do combate significa conviver com ele potencialmente, evitando-o na realidade, como a vacina, que nada mais é do que o próprio agente da doença mitigado. Se a velha parêmia latina já expressiva "si vis pacem, para bellum" (se deseja a paz prepara-te para a guerra), sua versão reescrita pela pena brilhante de Sigmund Freud é ainda mais aguda: "si vis vitam, para mortem" (se queres a vida, prepara-te para a morte).
Dentre as artes marciais talvez a mais conhecida seja o Karatê; e é nele que vou mergulhar para justificar o título. O Karatê é um esporte-arte fundamentado nos princípios do respeito mútuo e equilíbrio corpo mente, de forma a buscar a elevação do caráter e harmonia no convívio social procurando sempre a correção dos erros numa visão de auto-estima e respeito ao próximo.
O que me trouxe aqui (este artigo) foi uma entrevista que li com Gary Gagliardi, o maior interprete do famoso “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu.
Gary disse que devido ao título do livro de Sun Tzu (que é uma espécie de tradução errônea), e devido às atitudes modernas em relação à guerra, muitas pessoas não entendem do que se trata o livro de Sun Tzu. Nós associamos guerra com violência, mas o livro não é sobre isso (exceto tangencialmente). O título Chinês, Bing-fa, quer dizer algo como "métodos competitivos". O que nós chamamos de "guerra", Sun Tzu define especificamente como aquilo "que leva à sobrevivência ou destruição, sucesso ou derrota". Em outras palavras, competição. Ao ler Sun Tzu, você não descobrirá nada sobre como as guerras eram lutadas no século
Da mesma forma que o livro de Sun Tzu não fala de guerra, a maioria das artes marciais vão além da importância do melhor condicionamento físico ou do aprender a respirar com o diafragma. Elas falam de disciplina, hierarquia, concentração, estratégia, respeito e, principalmente, sobre como evitar conflitos.
A filosofia do Budo sempre deu muita importância à percepção e à sensibilidade, uma vez que as técnicas que nela se baseiam, visam essencialmente:
1. à conquista da estabilidade e da autoconfiança, através de treino rigoroso e vida disciplinada;
2. ao desenvolvimento da intuição, no sentido de perceber o ataque do adversário antes mesmo do início do seu movimento e da capacidade de analisar o adversário, para prevenir-se contra surpresas;
3. À formação de hábitos de saúde, como o uso da meditação Zen e a respiração com o diafragma.
Repare como existem semelhanças entre alguns dos ensinamentos do Karatê (mestre Gichin Funakoshi) e as técnicas empresariais:
CLIENTE:
HITOTSU - MAKOTO NO MICHI O MAMORU KOTO
Ser fiel ao verdadeiro caminho da razão. empatia
HITOTSU – REIGI O OMONZURU KOTO
Respeitar, acima de tudo. entender
HITOTSU - KOKORO WA HANATAN WO YOSU
Evitar o descontrole do equilíbrio mental. ouvir
HITOTSU - KEKKI NO YU O IMASHIMURU KOTO
Reprimir o espírito de agressão. paciência
VENDAS:
HITOTSU - CHIKARA NO KYOJAKU KARADA NO KANKYU WAZA NO SHINSHUKU WO WASURUNA
Não se esqueça de aplicar corretamente: alta e baixa intensidade de força; expansão e contração corporal; técnicas lentas e rápidas. Tática.
HITOTSU - TSUNE NI SHINEN KUFU SEYO
Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre. Conhecer produto
HITOTSU - KATA WA TADASHIKU JISSEN WA BETSUMONO
A prática de fundamentos deve ser correta, porém na aplicação torna-se diferente. Flexibilidade
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO:
HITOTSU - KATSU KANGAE WA MOTSUNA MAKENU KANGAE WA HITSUYO
Não pense em vencer, pense em não ser vencido. controle
HITOTSU - JINKAKU KANSEI NI TSUTOMURU KOTO
Esforçar-se para formação do caráter. valores
HITOTSU - DORYOKU NO SEISHIN O YASHINAU KOTO
Criar o intuito de esforço. equipe
HITOTSU - MAZU JIKO WO SHIRE SHIKOSHITE TAO WO SHIRE
Conheça a si próprio antes de julgar os outros.
processos
HITOTSU - WAZAWAI WA GETAI NI SHOZU
Os infortúnios são causados pela negligência. Monitoramento.
HITOTSU - KAMAE WA SHOSHINSHA NI ATO WA SHIZENTAI
No início seus movimentos são artificiais, mas com a evolução tornam-se naturais. relacionamento
HITOTSU - TEKI NI YOTTE TENKA SEYO
Mude de atitude conforme o adversário. gestão
HITOTSU - TATAKAI WA KYOJITSU NO SOJU IKAN NI ARI
A luta depende do manejo dos pontos fracos (KYO) e fortes (JITSU). swot
ENDOMARKETING/RH:
HITOTSU - Karatê WA YU NO GOTOSHI TAEZU NETSUDO WO ATAEZAREBA MOTO NO MIZU NI KAERU
O Karatê é como água quente. Se não receber calor constantemente torna-se água fria. Motivação.
HITOTSU - Karatê NO SHUGYO WA ISSHO DE ARU
O aprendizado do Karatê deve ser perseguido durante toda a vida. Treinamento.
Lemas do Dojo
“Se o adversário é inferior a ti, então porque brigar?
Se o adversário é superior a ti, então porque brigar?
Se o adversário é igual a ti, compreenderá o que tu compreende...
Então não haverá luta.
“Honra não é orgulho, é consciência real do que se possui."
No Jiu-ipon-kumite, o combate do Karatê, o atacante pode se movimentar livremente e escolher o angulo de ataque. Tentando, dessa forma, minar a defesa do oponente; porém, tudo dentro das regras da arte marcial.
Usando como analogia os Lemas do Dojo para o que poderia ser a competição de faixas-pretas, deveríamos competir no mercado dentro de regras leais e éticas. Mas, é só um devaneio, rs.
Oss.
Paulo Rubini - Consultor de Empresas em busca de uma Faixa Preta.
Conta a lenda que numa cidade do Oriente, um lutador de artes marciais, após muitos anos de difícil treinamento e
ResponderExcluirpesada disciplina, iria receber sua Faixa Preta de um mestre sensei numa cerimônia especial. Ao ajoelhar-se diante do
sensei, este lhe diz: "antes de receber a sua tão esperada Faixa Preta, há mais um teste que você deverá passar.
"Estou pronto", responde o discípulo, imaginando que irá lutar mais um "round". "Você deverá responder a seguinte
questão", diz o mestre: Qual o verdadeiro significado da Faixa Preta? "Ah!" responde o discípulo. "É o final da minha
jornada". "Uma merecida recompensa por todo o meu esforço". O mestre aguarda algo mais, pois claramente não ficou
satisfeito com as respostas, e finalmente diz: "você ainda não está pronto para receber sua Faixa Preta. Volte dentro
de um ano. Um ano mais tarde, o discípulo está ajoelhado diante do sensei, na expectativa de receber sua faixa preta.
O mestre lhe pergunta: "qual o verdadeiro significado da Faixa Preta?" "É um símbolo de distinção e a maior realização
conseguida em nossa arte". Mais uma vez não satisfeito, o mestre lhe diz: "você ainda não está pronto para a Faixa
Preta", volte dentro de um ano". Um ano mais tarde, novamente o discípulo escuta a pergunta: "qual o verdadeiro
significado da Faixa Preta"? Desta vez ele responde: "a Faixa Preta significa não o fim, mas o começo de uma jornada
sem fim. Uma jornada de disciplina, trabalho com muito esforço para aperfeiçoamento, e a busca de um crescimento
interior cada vez maior". "Sim", disse o mestre. "Agora você está pronto para receber sua faixa preta e começar o seu
trabalho". Você que lê este artigo, talvez não esteja recebendo uma Faixa Preta em artes marciais, mas quem sabe
está chegando a uma encruzilhada semelhante na vida, um momento de mudança drástica e assustadora, às vezes até
doloroso, ou talvez encontra-se na expectativa de atingir um objetivo importante, uma graduação, um novo trabalho, uma
aposentadoria. Lembre-se: qualquer que seja a razão para "receber a sua Faixa Preta", responda ao seu "mestre
interior" com a sabedoria dos sensei. Mudanças não devem nos assustar. Aparentes finais podem ser promissores
começos. Existe apenas um lugar de descanso e tranqüilidade permanente. Mas as pessoas, em seu instinto de vida,
lutam com todas as suas forças para não ir para lá. Por que não recomeçar a sua busca, agora aplicando a sabedoria do
sensei?
Adorei!
ResponderExcluirEspero que conquiste logo sua faixa preta.
Abs!
Legal a analogia. Sou professor de kung fu profissional de comunicação. Os conhecimentos marciais e filosóficos adquiridos - principalmente os da linha taoísta - sempre foram uma direção positiva na minha carreira.
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ResponderExcluirIsabel, talvez no Aikidô eu consiga, rs. Voce já a conseguiu na carreira profissional.
ResponderExcluirAbs
Roni, muito bacana a fábula. Dexter o Taoísmo é um caminho perfeito.
ResponderExcluirAbs
Acho que este artigo foi um presságio. Alguns meses depois eu deixei o Aikidô e voltei para minhas raizes do Karatê. Estou a dois passos da preta.
ResponderExcluirTo voltando ao artigo para dizer que retornei ao Karatê - minha origem - e cheguei à faixa marron, o último Kyu, antes da honraria maior do 1º Dan. Oss
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