quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

É hora de sair da escola

Às vezes, a motivação de quem faz um curso atrás do outro é o medo de enfrentar os desafios reais de um negócio.


Excelente artigo para reflexões permanentes.
Sidney Santos, da EXAME PME

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Ninguém pode deixar passar o momento de agir só porque ainda não se sente preparado.

Conhecimento é como alface — se não aproveitar logo, estraga. É preciso usar rapidamente.”
Tenho alguma desconfiança de quem não pode ver uma sala de aula e já vai entrando. Não sou contra quem quer adquirir conhecimento, ao contrário. Mas venho percebendo que muita gente anda com mania de fazer todo tipo de curso. É especialização em pesquisa e desenvolvimento, em marketing de varejo, em mídias sociais. Há ainda os que querem fazer uma segunda faculdade e, às vezes, uma terceira.
As pessoas que conheço nessa situação estão eternamente se preparando. O tempo passa e elas nunca se consideram prontas para trabalhar. E, quando chega a hora de resolver problemas na empresa, geralmente não conseguem colocar em prática o que supostamente aprenderam na escola.
Na minha empresa havia um sujeito assim. Ele já era formado em direito e em economia, e vivia fazendo cursos de especialização. Várias vezes ele me convenceu de que esse aprimoramento faria dele um profissional melhor. Paguei por mais de seis cursos. Em três anos, nunca tive retorno. Pior: em vez de melhorar, ele foi ficando improdutivo. Atrasava os relatórios porque tinha de sair mais cedo para fazer trabalhos em grupo ou porque passava horas na internet pesquisando mais cursos. Tive de demiti-lo.
Percebi mais tarde que o erro foi meu. Quando ele me pedia licença e dinheiro para as mensalidades, eu sempre concordava. Nunca questionei: para que serve esse curso? Como você usará o que aprender em favor da empresa? Hoje faço essas perguntas. Se as respostas são vagas ou não entendo como o curso vai ajudar o funcionário a trabalhar melhor, digo não. É perda de tempo para a empresa e para o funcionário.
Quanto mais genérico o curso, maior é o perigo. Um dono de um escritório de arquitetura que manda um funcionário aprender novas tecnologias para edificações em Singapura tem boa chance de ver o investimento de volta. Mas é possível que seja uma roubada se esse funcionário tiver aulas sobre políticas de recursos humanos para a eventualidade de, um dia, virar chefe. Conhecimento é como alface — se não aproveitar logo, estraga. É preciso usar rapidamente.
Quando era criança e fui palhaço no circo do meu pai, aprendi que existe um ritmo certo para contar piadas. Há um momento exato em que é preciso parar de falar e esperar o público rir. Continuo usando esse princípio na vida e nos negócios. Ninguém deveria deixar passar o momento de agir só porque não se sente preparado.
A síndrome dos cursos não ataca apenas funcionários. Muitos empreendedores também deixam de ir em frente por estar sempre na escola. Amigos meus tiveram boas ideias e dinheiro na mão para abrir uma empresa, mas nunca realizaram nada. "Estou me preparando", eles diziam. E continuavam a fazer cursos em que se ensinam coisas misteriosas, como "o segredo da boa gestão" e "aprimoramento da liderança". Tinha um que estudava mandarim para quando, um dia, tivesse clientes chineses.
Acho que o que leva esse pessoal a procurar tantos diplomas não é tanto o interesse em aprender. Estudar é uma desculpa nobre para adiar responsabilidades. No fundo, eles não querem parar de estudar porque, como Peter Pan, têm medo de crescer.
Sentir medo é normal. Muitas vezes, quando as coisas estão difíceis, também tenho vontade de voltar para a escola. Lá, eu saberia as respostas teóricas de muitos problemas. Mas, nessas horas, penso: que benefício isso trará para mim? Se a resposta — honesta — indicar que estou tentando me esconder, a última coisa que vai resolver meu problema é entrar numa sala de aula repleta de gente que também está com medo como eu

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