sábado, 14 de junho de 2008

Ainda sobre Jobs e Apple

Um artigo interessante sobre o que pode estar por trás do lançamento do novo iPhone.


O caro pode custar barato?
por
Ricardo Jordão Magalhães


Doze meses e seis milhões de cópias vendidas após o seu lançamento, a Apple dropou o preço do iPhone em 400 dólares. Inicialmente lançado a 599 dólares, o novo iPhone chega ao mercado no próximo dia 11 de Julho por apenas 199 dólares. Acabou a festa das madames e patricinhas de São Paulo que andavam na rua mostrando o iPhone como se apenas elas pudessem ter um. A partir de 11 de Julho o iPhone vira carne de vaca, todo mundo que tem um emprego decente poderá ter um.

Até no Brasil, mesmo depois que o governo aplicar a sua tradicional e indecente mordida fiscal, o iPhone será acessível.

A Apple é uma empresa originalmente elitista. Ela sempre colocou uma visão elitista em tudo que faz, inclusive na escolha de parceiros, clientes e funcionários. Na visão de Jobs não existe muita diferença entre um motorista de táxi bom e um motorista de táxi ruim. Um motorista de táxi bom consegue ser 3 ou 4 vezes melhor do que o motorista ruim. Porém, um excelente designer, programador ou marketeiro consegue ser 100 ou 200 vezes melhor do que um designer, programador ou marketeiro ruim. Existem centenas de habilidades que podem ser aprendidas por um trabalhador do século 21 para se diferenciar da média. Não existem muitas habilidades que um motorista de táxi pode desenvolver para pular da mediocridade para a excelência.

Jobs sempre acreditou em poucas pessoas, poucos clientes, poucos fornecedores. Na Apple as equipes de trabalho sempre foram pequenas. Máximo 100 pessoas. Ele dizia a seus diretores, "Se você quiser aumentar a sua equipe para 101, você terá que mandar alguém embora".

Steve Jobs nunca fez questão de fazer produtos que pudessem ser comprados por um ser humano ordinário, pela massa, pelo povão, ele sempre fez produtos extraordinários para as pessoas extraordinárias, na opinião dele existe um número limitado de pessoas extraordinárias. Nem todo mundo, apesar do potencial que têm, consegue ser extraordinário. (Você acredita nisso?).

Há pelo menos 20 anos os computadores, notebooks e mp3s da Apple são no mínimo 50% mais caros que os seus pares, sendo líderes de mercado ou não, precificados para atender as pessoas extraordinárias (ache você ruim isso ou não). Sempre foi assim. Mas na segunda-feira 15:20 hs horário de Brasília tudo mudou quando Jobs anunciou o iPhone 3G.

Pela primeira vez na história da Apple, Jobs tem um produto MELHOR e mais barato que a concorrência. O iPhone 3G com 8 gigas é pelo menos 50% mais barato do que os seus pares Blackberrianos, Nokias, Motorolas e asiáticos. Pela primeira vez na história da indústria de tecnologia o ser humano ordinário terá a chance de colocar as mãos em um produto Apple.

Desde 1956, quando alguém na Procter & Gamble descobriu a fórmula dos 4Ps, todo marketeiro que se preza analisa quatro questões "básicas" antes de lançar um produto. O PREÇO que o produto chegará ao mercado, a PROPAGANDA que irá levar a mensagem do produto até o cliente, os benefícios tangíveis e invisíveis que o PRODUTO deve ter para ser percebido como diferente por um determinado mercado, e a localização, crédito e capacidade de um PONTO DE VENDA em distribuir esse produto em um determinado local.

Desde que os 4Ps são 4Ps o paradigma do marketing diz que o bom tem que ser caro porque o barato é percebido como ruim.

Se o produto que você faz oferece mais benefícios que o produto concorrente, ele não pode custar mais barato que a concorrência senão o seu cliente não vai acreditar que você é melhor.

Você acredita nessa regra?

Claro que acredita!

Se não acreditasse os líderes de mercado seriam mais baratos que os produtos que estão em segundo lugar. Trinta segundos de comercial na novela da Globo é 30% mais caro do que trinta segundos de comercial na novela da Record. Um calçado da Nike é mais caro que um calçado da Tooper (se você encontrar um), um par de havaianas é mais caro que um par de sandálidas ipanema. O Wal-Mart é mais caro que o Carrefour, por sua vez o Pão de Açucar é mais caro que o Wal-Mart. E todos vão muito bem obrigado sendo mais caros que a média.

Você acreditaria que o ZÉ TELEFONE seria capaz de criar um aparelho portátil que cabe na palma da sua mão e que vem com câmera digital integrada, e-mail, browser de internet, wi-fi, videos, fotos, jogos, músicas, caixas de som estéreo, fantástica tela wide-screen com tecnologia proprietária sensível ao toque, incrível capacidade de armazenamento, integração com o Microsoft Exchange, loja virtual com dezenas de softwares adicionais, e ainda com telefone celular embutido por 300 reais?

Mas se for um produto da Apple você vai sair correndo para comprar um, certo?

A dropagem do preço do iPhone e a popularização da Apple vai destruir a imagem que ela construiu até agora como empresa elitista?

Com certeza!

Ela se importa?

Não!

"Eu não tenho medo de começar do início", disse Jobs quando perguntaram o que ele faria para reconstruir a Apple em 1997.


A Microsoft reina soberana no universo dos sistemas operacionais desde 1981. Com o advento do iPhone, a Apple tem a chance pela primeira vez em décadas de ter um sistema operacional dominando o mercado. Jobs não vai perder essa chance. Todo mundo sabe que século 21 é sobre software e não hardware, inteligência sobre força bruta, cálculos sobre máquinas. Até 2010 o número de pessoas acessando a internet via telefone será maior do que número de pessoas acessando via computadores. O celular é definitivamente uma nova plataforma de acesso a internet e o sistema operacional do iPhone tem a chance de ser o líder desse mercado.


A Apple está abrindo mão de lucrar no hardware do iPhone para apostar as fichas no software. No mesmo dia que anunciou o iPhone, Jobs lançou o MobileMe, um super mega blaster web site onde os usuários de iPhone poderão armazenar e sincronizar arquivos de fotos, emails, contatos, calendário com a internet por 99 dólares por ano. No dia 11 de Julho entra no ar a Loja online de softwares para iPhone com dezenas de aplicativos free e outros pagos desenvolvidos por terceiros segundo os padrões da Apple. Jobs é completamente contra sistemas abertos. "Jobs é um artista elitista que não quer ver a sua obra se transformar em uma mutação de mal gosto. É como se um artista de rua desse uma pincelada em um quadro do Picasso, ou alguém mudasse a letra de uma música dos Beatles. Jobs não vai deixar que isso aconteça". A Apple vai ganhar 30% de comissão em cima de todas as vendas de softwares feitas na loja da Apple, além é claro, de ganhar com a venda de músicas, filmes, shows de TV, audio-livros que podem ser comprados na loja e armazenados em um iPhone.


"O meu sonho é que um dia todas as pessoas do mundo terão um computador Apple", disse Jobs em 1984 quando lançou o Macintosh para enfrentar a soberania do IBM PC. Parece non sense quando você leva em conta tantos anos de elitismo, mas, após décadas puxando a indústria para níveis de excelência e forçando os seus concorrentes a sair da mediocridade (Windows) e se fazer entender pelo usuário comum, Jobs finalmente está vendo o dia em que todas as pessoas terão um computador Apple nas mãos, ainda que seja um telefone.


"Design não é sobre como um produto vai ficar bonito, mas como ele vai funcionar. A participação de mercado da Apple é maior que a participação de mercado da BMW e Mercedes na indústria automobilística. O que tem de errado em ser uma BMW ou uma Mercedes?". Steve Jobs

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