segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Bala perdida é culpa da mídia.

Não é razoável definir a morte por projétil disparado por arma de fogo como sendo morte por "bala perdida". Acredito que bala perdida seja um projétil intacto achado no chão ou um confeito sob uma mesa, mas jamais uma bala que saiu do cano de uma arma de fogo potente com direção e dolo; pois quem atira tem a intenção de atingir algo ou alguém.

Deve ter sido nos morros e favelas do Rio de Janeiro, onde através de uma intensa cobertura jornalística vemos dezenas de cidadãos, jovens ou idosos, mulheres ou homens, serem atingidos fatalmente quase todos os dias por conta das incursões policiais promovidas pelo Estado - o mesmo Estado que deveria dar proteção - que nasceu a errônea expressão "bala perdida".

A julgar pela definição de "morto por bala perdida", talvez padronizada pela maior emissora de TV brasileira, podemos achar razoável, também, que quando um maluco estadunidense entra numa sala de aula atirando a esmo matando dezenas de pessoas, ou outro idiota maluco que portando uma submetralhadora entra numa sala de cinema e atira em várias pessoas, sejam causadores de
"mortes por balas perdidas".

Se disparo uma metralhadora giratória numa multidão, muitos serão vitimas de balas perdidas? Claro que não. Todos serão vitimas de balas certeiras que foram disparadas para matar, não importando a quem.

Além de não podermos mais tolerar ações "táticas" dessa natureza, não podemos mais conviver com a desculpa de bala perdida para justificar tantas mortes. Lembram-se das declarações dos EUA sobre os efeitos colaterais nos ataques aéreos ao Iraque? É de uma frieza sem tamanho ver um militar graduado tentando justificar o não disparo que culminou na morte de uma adolescente de 11 anos dentro de sua casa, por seus policiais. Num confronto armado não existe mocinho ou bandido para justificar a perda de uma vida seja ela a de um inocente, de um criminoso ou de um militar. Se queremos estabelecer a pena de morte que o congresso se manifeste.

A mídia nacional deve mudar a definição de morte por bala perdida para morte por bala de fogo em confronto armado porque a expressão vítima de bala perdida não permite a imputação de culpa. Uma bala só será perdida quando for intacta e inocentemente encontrada pelas calçadas ou ruelas dos morros que são palcos de confrontos armados diários. Talvez dessa forma o Estado também passe a ser visto como responsável pelas mortes de seres humanos que nada tem a ver com a guerrilha urbana estabelecida.

A inteligência estratégica e tática deveria ser o principal objetivo nas ações de guerrilha urbana e não a contabilização da apreensão de drogas e armas de fogo em detrimento da VIDA, que é o maior bem do ser humano e o mais importante direito constitucional.

Assim, caros jornalistas, mudem o foco para que ao Estado seja imputada a sua responsabilidade pela negligência na segurança dos cidadãos.

Como aqui nosso negócio é marketing, e para não fugir dele, podemos deduzir que ações de combate ao crime não podem prescindir de planejamento estratégico. Muitas ações contra o narcotráfico, por exemplo, foram implementadas com sucesso em países como o México e a Colômbia. O tolerância zero contra a violência das gangues de Nova Iorque também foi bem sucedido. Tudo isso é Benchmarking para os gestores públicos alcançarem bons resultados políticos. Ou alguém acredita que fazer marketing político seja distribuir santinhos, dar tapinha nas costas e usar a velha retórica de palanque eleitoral?


Paulo Rubini, Conslutor de Marketing.

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